quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sinhá Vitória



 “Vidas Secas” de Graciliano Ramos

O alagoano Graciliano Ramos está, sem dúvida, no rol dos mais importantes escritores da Literatura Brasileira e um de seus livros mais conhecidos é “Vidas Secas” e deste retiramos o elemento de análise deste blog.
O livro foi publicado pela primeira vez em 1938 e narra a história de uma família de retirantes do sertão, formada por: Fabiano, Sinhá Vitória e os dois filhos do casal (não nomeados pelo autor) e a cachorra Baleia.
O objeto do nosso estudo é o terceiro capítulo do livro, dedicado a mãe dessa família: Sinhá Vitória.

Conhecendo Sinhá Vitória:

Sinhá Vitória representa a mulher do sertão que não se rende à miséria. Trabalhadora, e inconformada com a lamentável situação de pobreza que ela e sua família vivem. Sempre acompanha o marido Fabiano e leva consigo seus dois filhos. Ela é uma mulher que possui suas ideias cheias de esperanças e com um grande sonho: ter uma cama de couro (assim como seu Tomás da Bolandeira) e livrar-se da indesejada cama de varas.
Logo no primeiro capítulo do livro, Sinhá Vitória aparece como uma mulher forte, que toma as iniciativas e leva sobre si mais peso que o marido. Numa situação de fome extrema, depois da família caminhar dias sem encontrar um local para ficarem e à beira de um rio seco, ela decide dar fim à vida de um das mascotes da família, o papaguaio, e dividi-lo com os filhos, o marido e a cachorra a fim de minimizar a falta de alimento.
Também é descrita por Fabiano como uma mulher que tem "miolo", pois fazia as contas do pagamento recebido por ele do dono da fazenda onde moravam e trabalham, e chegava à conclusão que eram roubados.
A esposa de Fabiano figura uma típica mulher do sertão, dedicada aos serviços domésticos e preocupada com o bem-estar da família, mesmo sob circunstâncias tão penosas.

1-      Trecho do capítulo de Sinhá Vitória:

Sinhá Vitoria tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: - "Hum! hum!" E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de entender, deitara-se na rede e pegara no sono. Sinhá Vitoria andara para cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé. (Graciliano Ramos, 2003, p.21)

2-      Possíveis perguntas sobre o texto acima:

a) Que quer dizer “tinha amanhecido nos seus azeites”, na primeira linha do trecho acima?
b) A expressão "amunhecara" pode ter que sentido no contexto?
c) Por que o uso da expressão “em que desabafar” ao invés de com quem desabafar?
d) Em qual ou quais trechos do texto acima sinhá Vitória expressa sua inconformidade com a sua atual situação?


Intertextualidade em “Vidas Secas” – Capítulo sobre Sinhá Vitória

A intertextualidade é muito importante para a compreensão de como um texto pode fazer referência a outro texto.  A intertextualidade não se dá apenas por meio de textos, ela pode ocorrer, também, através da ligação de diferentes tipos de artes: um texto e um quadro; um romance e uma música; um filme e um romance, entre outras. Esse tecer de textos está ligado diretamente ao conhecimento de mundo.

A nossa rica literatura brasileira é fonte inesgotável de intertextualidade com vários outros tipos de arte, Por exemplo, o pintor Cândido Portinari, que trouxe para seus quadros o tema dos retirantes do sertão nordestino:
























Assim como a realidade nordestina, Sinhá Vitória, também foi trazida do romance para outro tipo de arte, como vemos no desenho abaixo:
















Há ainda, o premiado longa brasileiro “Vidas secas – o filme” de 1963. O filme foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos e retrata com perfeição a saga da família retirante. A personagem Sinhá Vitória foi vivida pela atriz Maria Ribeiro, que personificou a sertaneja de linguagem primitiva, cismas e preocupada com a família.


















Maria Ribeiro em cena do filme



















Cartaz do filme






























Fontes de pesquisa: