“Vidas Secas” de Graciliano Ramos
O alagoano
Graciliano Ramos está, sem dúvida, no rol dos mais importantes escritores da
Literatura Brasileira e um de seus livros mais conhecidos é “Vidas Secas” e deste
retiramos o elemento de análise deste blog.
O
livro foi publicado pela primeira vez em 1938 e narra a história de uma família
de retirantes do sertão, formada por: Fabiano, Sinhá Vitória e os dois filhos
do casal (não nomeados pelo autor) e a cachorra Baleia.
O
objeto do nosso estudo é o terceiro capítulo do livro, dedicado a mãe dessa
família: Sinhá Vitória.
Conhecendo Sinhá Vitória:
Sinhá
Vitória representa a mulher do sertão que não se rende à miséria.
Trabalhadora, e inconformada com a lamentável situação de pobreza que ela e sua
família vivem. Sempre acompanha o marido Fabiano e leva consigo seus
dois filhos. Ela é uma mulher que possui suas ideias cheias de esperanças
e com um grande sonho: ter uma cama de couro (assim como seu Tomás da Bolandeira)
e livrar-se da indesejada cama de varas.
Logo
no primeiro capítulo do livro, Sinhá Vitória aparece como uma mulher forte, que
toma as iniciativas e leva sobre si mais peso que o marido. Numa situação de
fome extrema, depois da família caminhar dias sem encontrar um local para
ficarem e à beira de um rio seco, ela decide dar fim à vida de um das mascotes
da família, o papaguaio, e dividi-lo com os filhos, o marido e a cachorra a fim
de minimizar a falta de alimento.
Também
é descrita por Fabiano como uma mulher que tem "miolo", pois fazia as
contas do pagamento recebido por ele do dono da fazenda onde moravam e
trabalham, e chegava à conclusão que eram roubados.
A
esposa de Fabiano figura uma típica mulher do sertão, dedicada aos serviços
domésticos e preocupada com o bem-estar da família, mesmo sob circunstâncias
tão penosas.
1-
Trecho do capítulo de Sinhá Vitória:
Sinhá
Vitoria tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido
umas inconveniências a respeito da cama
de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: -
"Hum! hum!" E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de
entender, deitara-se na rede e pegara no sono. Sinhá Vitoria andara para cima e
para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem,
queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé.
(Graciliano Ramos, 2003, p.21)
2-
Possíveis perguntas sobre o texto acima:
a) Que quer dizer “tinha amanhecido nos seus
azeites”, na primeira linha do trecho acima?
b) A expressão "amunhecara" pode ter que
sentido no contexto?
c) Por
que o uso da expressão “em que desabafar” ao invés de com quem desabafar?
d) Em
qual ou quais trechos do texto acima sinhá Vitória expressa sua inconformidade com a sua atual situação?
A nossa rica
literatura brasileira é fonte inesgotável de intertextualidade
com vários outros tipos de arte, Por exemplo, o
pintor Cândido Portinari, que trouxe para seus quadros o tema dos
retirantes do sertão nordestino:
Maria Ribeiro em cena do filme
Intertextualidade em “Vidas Secas” –
Capítulo sobre Sinhá Vitória
A intertextualidade é muito importante para a
compreensão de como um texto pode fazer referência a outro texto. A intertextualidade não se dá apenas por meio
de textos, ela pode ocorrer, também, através da ligação de diferentes tipos de
artes: um texto e um quadro; um romance e uma música; um filme e um romance,
entre outras. Esse tecer de textos está ligado diretamente ao conhecimento de
mundo.
Assim como a realidade
nordestina, Sinhá Vitória, também foi trazida do romance para outro tipo de
arte, como vemos no desenho abaixo:
Há ainda, o premiado longa brasileiro “Vidas secas – o filme” de 1963. O
filme foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos e retrata com perfeição a saga
da família retirante. A personagem Sinhá Vitória foi vivida pela atriz Maria
Ribeiro, que personificou a sertaneja de linguagem primitiva, cismas e
preocupada com a família.
Maria Ribeiro em cena do filme
Cartaz do filme
Fontes de pesquisa: